Violência

Santa Maria já registra mais assassinatos do que em 2016

Camila Gonçalves

Foto: Lucas Amorelli / Diário de Santa Maria

O assassinato mais recente registrado em Santa Maria, um latrocínio (roubo com morte), na madrugada do último domingo, na Região Oeste, entrou para as estatísticas como a morte violenta de número 67 na cidade. Com isso, a cidade ultrapassa o número registrado em todo o ano passado, de 66 assassinatos. A vítima do latrocínio, Osmair da Silva Soares, 25 anos, foi morta a facadas durante um assalto no Bairro Juscelino Kubitschek. O caso é o sexto latrocínio do ano. Até agora, além dos seis latrocínios, Santa Maria já contabiliza 60 homicídios e um caso de legítima defesa, que não é considerado crime. Os dados são da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e da 3ª Delegacia de Polícia Regional de Santa Maria. 

 

Segundo o delegado titular da DHPP, Gabriel Gonzales Zanella, dos 60 homicídios ocorridos neste ano - a delegacia não investiga os casos de latrocínio, que ficam com as delegacias distritais -, mais de 80% já foram elucidados, ou seja, com inquéritos concluídos e remetidos ao Poder Judiciário e apontando suspeitos de autoria. Os outros 20% são inquéritos não concluídos ou que a polícia não reuniu provas suficientes para indiciar os supostos autores.

A motivação dos crimes de homicídio, segundo o levantamento da Polícia Civil, são rixas e desavenças (40%), seguidas de tráfico de drogas (30%). O restante dos casos diz respeito a crimes passionais ou por outros motivos. Na avaliação de Zanella, embora grande parte das vítimas tenha registro de antecedentes por tráfico ou consumo de drogas, não significa que elas tenham sido mortas por conta das disputas territoriais geradas pelo tráfico. Muitas das mortes são motivadas por brigas:

- Até pela sua natureza, na desavença, rixa, ou no chamado acerto de contas, quem sobrevive quer fazer justiça com as próprias mãos, algo que a gente desestimula ao máximo, mas que não tem controle. Muitas dessas desavenças são resultado do contexto que se vive no sistema prisional, que aumenta esses conflitos.

A presença cada vez mais frequente de jovens nas estatísticas, para o delegado, é consequência da ausência do enfrentamento de temas como o papel da família na educação dos filhos, a falta de investimentos em educação e segurança pública. O aumento dos índices de homicídios a cada ano, para Zanella, são "tragédias anunciadas".

- Ao contrário do senso comum, a gente não faz distinção se a vítima tem ou não antecedentes e empreende o máximo esforço para elucidar todos os casos. É um número elevado. É claro que não gostaríamos que houvesse homicídio algum. A gente observa que existem jovens com 15, 16 anos que são suspeitos e vítimas, e que muitos dos que se vangloriam de cometer crimes aos 17 não chegam aos 25 anos - analisa o delegado.

A professora Olinda Barcellos, da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma) e da Faculdade Palotina (Fapas), que trabalha temas como criminalidade, exclusão social e políticas públicas na academia, observa que a compreensão dos motivos das rixas parece estar fora do alcance da polícia.

- O contexto das mortes por vinganças se dá a partir da não valorização da vida humana, da desesperança e da imensa "sensação" de impunidade no sistema de Justiça. Os motivos variam desde raiva por um roubo, furto, até mesmo por sentir-se enganado em razão de alguma situação. Talvez, a psicologia nos explique melhor. Mais policiais na rua, investigação rápida e eficiente, processo penal e cumprimento de pena de acordo com os direitos de todas as pessoas é a receita perfeita, mas ainda prefiro questionar sobre a tal "responsabilidade de todos" na segurança pública.

A assessoria do secretário de Segurança Pública do Estado, Cezar Schirmer, informou que o chefe da pasta não comenta indicadores que não sejam próprios da secretaria.

Números  

O número de assassinatos divulgados pelo Diário até então não considerava quatro casos, que passaram a incrementar as estatísticas da cidade. Entraram para a lista de mortes violentas de Santa Maria o caso de Taisa Macedo Paula, 26 anos, que estava desaparecida em Santa Maria, mas foi encontrada morta em Itaara. A Polícia Civil contabiliza essa morte para Santa Maria, pois a investigação do desaparecimento estava sendo conduzida pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) em Santa Maria. Além disso, o crime foi premeditado em Santa Maria e a vítima teria sido levada à Itaara por coação.  


Outro caso é o de Wesley Giovany Cavalheiro, 18 anos, encontrado morto no arroio Cadena com marcas de tiros, cujo laudo pericial só foi liberado há três semanas, confirmando o homicídio. Também entraram para as estatísticas Marcelo Rodrigues Almeida, 43 anos, e Alan Vagner Valente de Barros, 38 anos, que haviam sofrido tentativas de homicídio, mas acabaram morrendo depois, em decorrência dos crimes.

Na opinião do delegado Arigony, com o mês de dezembro começando e as saídas temporárias de detentos da cadeia, o número de homicídios tende a aumentar.

- A sociedade não consegue absorver essa massa de trabalho do sistema prisional. Então eles (os apenados) vão acabar cometendo crimes e há possibilidade que esse índice de assassinatos cresça.

Latrocínios 

Metade dos latrocínios deste ano ocorreram na região oeste da cidade, incluindo o do último domingo, que vitimou o mototaxista Osmair Silva Soares, 25 anos. A autoria do roubo da motocicleta e da morte da vítima foi esclarecida no mesmo dia. De acordo com a delegada Alessandra Padula, titular da Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), o inquérito foi concluído e só não foi encaminhado ainda à Justiça porque a Polícia Civil aguarda o laudo da necropsia. O suspeito, de 31 anos, foi encaminhado à Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm).  

Segundo o delegado regional Sandro Meinerz, dos seis latrocínios registrados neste ano, apenas um não foi elucidado. É o caso da morte de Everton Renato Vila Nova da Cunha, 68 anos, primeiro latrocínio do ano. A vítima usava uma tornozeleira eletrônica e foi encontrada morta em sua residência, no Bairro Juscelino Kubistchek, com ferimentos na cabeça. Uma TV foi roubada da casa. A polícia procurou o suspeito, com a ajuda da divulgação de imagens das câmeras de monitoramento em que o mesmo aparecia carregando a TV, mas não identificou o responsável. O inquérito sobre o crime foi remetido à Justiça sem autoria. 

O delegado Marcelo Arigony, que responde pela 2ª Delegacia de Polícia, responsável pela investigação de dois latrocínios na Região Oeste, denomina esse tipo de crime como o "roubo que não deu certo", seja porque a vítima reagiu ou por outra intercorrência no momento do crime. Para ele, embora seja uma solução paliativa, a manutenção dos suspeitos atrás das grades é uma das coisas que pode evitar esse tipo de ocorrência: 

- Infelizmente, algumas pessoas precisam estar segregadas. Temos indicadores que apontam que o índice de ressocialização é praticamente nulo, por isso, o Ministério Público e o Poder Judiciário precisam atuar e manter essas pessoas presas.


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